terça-feira, 30 de agosto de 2011

carpe diem




Bom, era só uma consulta rotineira, mas aquela tarde, que não se diferenciava de nenhuma outra, que assim como outra qualquer, despertava na gente aquela preguiça costumeira, me mudara a vida. Ao chegar ao consultório, recebi a noticia de que teria pouco tempo de vida, o médico não sabia especificar, mas o certo é que logo logo estaria fazendo minha viagem derradeira.o meu mundo fora a baixo,meus pés flutuavam,me sentia como se estivesse suspenso no universo,pois por mais que a morte povoe nossa existência,raciocinar sobre a própria morte não é nada fácil,e ninguém espera que seja,porém na hora da verdade,é tudo bem maior do que a gente possa antecipar,são tantas as incertezas.
Certo dia, ao acordar senti algo diferente, abri a janela e fiquei observando.acredito que nunca houve na história dia mais bonito,o sol brilhava de uma intensidade fascinante,foi difícil não ficar imaginando quantas vezes eu ainda vivenciaria tal espetáculo ,quando se vislumbra o fim ,tudo é grandioso,tudo é mágico,é quando descobrimos o significado de milagre.
Minha vida sempre foi apressada, tinha a impressão que o dia era muito pequeno, eram tantos afazeres que nunca tive tempo para mim, se não tinha tempo para mim, imaginem se o tinha para meus amigos, para minha família. Meus filhos e esposa sempre se queixavam de minha rotina, mas eu dizia que não havia outra forma, pois o que estava em jogo era o futuro de nossa família. É engraçado como o momento menos importante para nós é presente, vivemos presos a lembranças ou em busca de conquistas futuras, não pensamos duas vezes na hora de sacrificar o presente, mas não deveria ser o contrario?O presente é o único momento cronológico que realmente nos pertence, não deveria ser o mais importante?
Disseram-me que o médico precisava me ver, fiquei assustado, mas eu já havia passado por esta fase, então me tranqüilizei. Ao chegar ao consultório, percebi que havia algo diferente, o homem de jaleco começou me dizendo que precisava se desculpar, pois havia cometido um grave erro, disse que minha saúde estava normal,e que tudo não se passava de um grande equivoco,disse também que entenderia se viesse a processá-lo, mas naquele momento me aproximei e lhe dei um fraterno abraço,seguido de um muito obrigado. Sem entender nada, ele me perguntou como poderia eu ser grato ao médico que cometeu tal erro, então lhe expliquei, que ele me havia dado uma nova vida, agora eu compreendo o valor da vida, agora sim sou um homem pronto para felicidade


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

TEORIA DA REALEZA E SUBMISSÃO PARTE II (o avestruz)


-A águia morreu, alguém dizia,dizem que foi suicídio,a voz insistia. O diário real publicou a noticia que a saúde mental da ave já não estava boa,vinha delirando,espalhando estórias mentirosas, caluniando e contagiando alguns súditos do rei leão. Esta é a versão que posteriormente seria contada nos livros de história. Às vezes Fico pensando sobre o significado da morte, creio que exterminar fisicamente alguém  não é necessariamente matá-lo, pois a águia não estava morta, estava viva, um pouco em mim, um pouco em outro animal, em cada um que sonhava em ser livre novamente, lá estava um pouco da águia.
Eu, este velho avestruz, já não mais me escondo, enfiar a cabeça num buraco e fechar os olhos para a realidade são atitudes que já não me cabem,lembro de um tempo onde os animais eram livres, nascíamos assim, agora parece tão distante, muitos já se esqueceram, mas eu não. lembro como se fosse hoje. Primeiro nos fizeram acreditar que não podíamos seguir como estávamos, e se não houvesse alguém para nos gerir, nosso fim seria catastrófico, então acreditamos, e fizemos do leão nosso rei.
Agora chamam isso de estado, denominam estado, como ferramenta pública que visa o bem estar social, que existe exclusivamente para nos garantir condições de dignidade. Denominam assim, mas na prática é bem diferente. O estado criado pelo leão é um aparato muito bem resguardado para manter privilégios, excluir todos os outros animais para o bem estar dos felinos, que agora querem ser chamados de elite. O mais intrigante é que outros animais foram desiguinados para a tarefa de defender o rei, sua corte e a chamada elite. São animais de várias espécies, que mesmo vitimados pelo sistema, o defendem. Tenho um primo que sonha em ser um guarda real, imaginem só um avestruz como guarda real!
Lembro de um trecho do celebre discurso da águia, pouco antes de ser assassinada, dizia mais ou menos assim:
-Caros amigos, não se deixem enganar, não aceitem com tanta passividade a opressão, pois está nas mãos de cada um vocês uma chance única de dizer não. Não a tirania, não a opressão, não a privilégios, não a violação do que cada um tem de mais valioso, a liberdade.
-Neste momento eu ainda me encontrava com a cabeça num buraco, mas como fechar os olhos para a realidade que nos bate a porta?Como sufocar um sentimento?A velha tática de me esconder já não me bastava, precisei me reinventar,agora tem mais da águia em mim do que podia imaginar.fui convido para participar do banquete real.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

um conto sobre a liberdade


 Um jovem pássaro havia passado toda sua vida em uma gaiola, esta também foi a sina de seus pais e seus avós, o pobre só conhecia a vida que rodeava sua gaiola. O jovem pássaro era feliz, tudo que precisava encontrava ali, água, comida, a vida era boa, mas algo aconteceria, e ia transformar sua vida.

Certo dia o pássaro recebeu uma visita inesperada, era uma borboleta, ele já havia visto outras criaturas como aquela, mas nenhuma tinha se aproximado tanto, se sentiu completamente fascinado por aquela criatura que assim como ele também voava,era como se estivesse em transe, a criatura era de uma beleza impar, voava, e não havia gaiola, de onde ela vinha?Ele se perguntava, sua curiosidade era tanta que logo a borboleta percebeu, e então se aproximou, o pássaro logo perguntou: De onde você vem?

A borboleta então lhe contou coisas sobre um mundo belo e imenso, falou sobre liberdade e outras coisas, mas o jovem pássaro não conhecia a palavra liberdade, que palavra difícil de explicar! Ficaram horas conversando, no final da conversa liberdade não era mais só uma palavra, mas uma obsessão, no dia seguinte a criatura magnífica que o visitara não voltou, e toda aquela conversa parecia ter sido apenas um sonho.

Certo dia, a porta da gaiola estava aberta, devem a ter esquecido assim, o pássaro não pensou duas vezes, foi conhecer a tal da liberdade. A tal liberdade era fascinante, mas também assustadora, e mesmo maravilhado com as belezas do mundo que existia do lado de fora da gaiola, o pássaro voltou. não se sentia preparado para tamanha transformação, ser livre é ser responsável por sua existência, isso o atormentava, por isso lá estava o pobre pássaro de volta a sua gaiola, mas nunca mais seria só uma gaiola, não após conhecer a liberdade, agora tinha outra conotação, o pobre fez a terrível descoberta de que só se reconhece uma prisão ,quando já se esteve fora dela,por isso nunca mais se sentiria em casa.

Muitas primaveras se passaram, o pássaro já não era mais jovem, tinha se tornado uma criatura atormentada por suas escolhas, o sonho de ser livre o atormentou de tal maneira, que já não mais cantava, tudo que queria era poder voltar atrás, se lhe fosse concedido essa oportunidade, talvez nunca tivesse retornado a sua gaiola, ou talvez nunca tivesse saído.

NO CAMINHO COM MAIAKOVSKI


Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm a ninguém é dado
repousar a cabeça alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã, diante do juiz,
talvez meus lábios calem a verdade
como um foco de germes capaz de me destruir.
Olho ao redor e o que vejo
e acabo por repetir são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó à porta do templo
e me pedem que aguarde até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei, porque não estou amedrontado,
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita lá estão
e acabam por nos roubar até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição de falso democrata
e rotulo meus gestos com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso, esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim, com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita – MENTIRA!
                                            Eduardo Alves da Costa