segunda-feira, 14 de novembro de 2011

umbigocentrismo


  
O que há de errado com as pessoas?Vivemos numa geração que resolveu fechar os olhos. A lei da selva lhes parece justa, se armam de argumentos para se sentirem bem, acreditam ou fingem acreditar que as oportunidades existem para todos, e se alguém vive na miséria é por falta de iniciativa, é por preguiça ou acomodação. Vivemos a geração do umbigocentrismo, termo apropriado para uma geração que aprendeu desde cedo que é preciso chegar à frente, e que seu colega do lado também era seu adversário, antes mesmo de ser seu amigo.
  Vivemos em um mundo onde as pessoas convivem bem com a existência da fome, e de crianças na rua, desde que as barrigas não sejam suas, e nem as crianças. As pessoas não sonham com o fim da pobreza, mas sim em se tornarem bastante ricas. Até acredito que o egoísmo seja um mecanismo de defesa do ser humano em busca da sobrevivência, remanescente do período pré-histórico, mas nos dias de hoje e no nível praticado é inaceitável e injustificável.
  A cultura do egoísmo está em toda parte, o sistema capitalista é absolutamente doutrinário neste aspecto, e exerce esta doutrinação com extrema perfeição. Somos educados para nos tornarmos pessoas egoístas, é difícil reconhecermos isto, mas é a pura realidade, tente puxar pela memória e você chegará a esta conclusão. Muitas vezes estas mensagens foram ditas de forma explicita e outras vezes estavam nas entrelinhas. A doutrina ensina, e disso você se lembra que só há lugar para os vencedores, e com isso deixa nas entrelinhas que se for preciso passar por cima de quem quer seja, você deverá passar.
  Precisamos refletir sobre o que estamos ensinando as nossas crianças, mas, porém temos medo, pois fomos doutrinados na lei do mais forte, na cultura do egoísmo, na mística do vencedor. Temos medo pelo futuro de nossos filhos, queremos garantir que eles se tornarão vencedores, e por isso transmitimos a mesma mensagem que recebemos. Gerações se sucederão repassando esta mesma mensagem.  O mundo se tornará cada vez mais egocêntrico, com uma capacidade cada vez maior de excluir, descriminar e determinar seus percentuais com o argumento de que o planeta não consegue suprir as necessidades de todos os seus habitantes, e assim justificar a exclusão nas leis de Darwin.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Alien para presidente




A nave estava lá, ninguém havia visto a aterrissagem, mas o certo é que lá estava ela, imponente e misteriosa. Pousaram justamente sobre Brasília, diante do palácio do planalto, haveria de ter algum significado, os representantes políticos da nação estavam ali, estavam acuados, ninguém se atrevia a sair, pois temiam que fosse justamente o que os aliens esperavam.
Todas as entradas para Brasília foram fechadas, só se podia sair, e foi exatamente o que a população da cidade fez,havia quilômetros e mais quilômetros de congestionamento, era um caos completo, as pessoas fugiam para o mais longe que podiam. Todos os canais de TV foram proibidos de mencionarem qualquer coisa sobre o assunto, mas um fato como este seria difícil de esconder, o pânico era geral.
As forças armadas brasileira foram convocadas imediatamente, estavam lá com todos os seus aparatos, mas não estávamos acostumados nem com guerras comuns, como poderíamos está preparados para algo de tão grande magnitude? Os norte americanos já fizeram tantos filmes sobre invasões alienígenas, que nossos lideres concluíram que ninguém melhor do que eles para enfrentar esta terrível ameaça.
Enquanto o poderio bélico norte americano ainda se deslocava com todo seu heroísmo fabricado em Hollyhood,os alienígenas saiam de sua nave,surpreendentemente eles eram idênticos a nós,com exceção de suas vestimentas não havia nada que os diferenciasse.Aconteceu então que nossa força armada foi imobilizada ,enquanto nossos políticos eram abduzidos,presidente ,vice, ministros,deputados,senadores e todo o poder judiciário,não sobrou ninguém ,nem sequer um único assessor,petistas e tucanos,marxistas e liberais,foram todos postos numa única barca, os três poderes estavam vazios.
O cenário nacional estava uma desordem, mal os nossos políticos foram abduzidos e já havia brigas pelo poder,mas para decepção de muita gente em pouco tempo os políticos abduzidos estavam de volta,soubemos pelo site wikileaks que os aliens vinham observando o comportamento dos políticos brasileiros há muito tempo,e só os abduziram por estarem intrigados,e por isso resolveram estudá-los,concluíram que apesar de nossos políticos serem considerados humanos,seu modo de agir se assemelhava muito mais com os dos parasitas.
Nos anos posteriores a invasão, nossa nação mudou de rumo, evoluímos em todas as áreas, educação, saúde, segurança, infra-instrutora, caminhávamos a passos largos para a condição de melhor lugar do mundo para se viver, sobretudo  uma  duvida pairava no ar.Será que aqueles eram mesmo nossos políticos?




sábado, 10 de setembro de 2011

TEORIA DA REALEZA E SUBMISSÃO PARTE Vl (a cobra)



Falam muitas coisas a meu respeito, mas não acreditem em tudo, muito do que falam são apenas boatos. Quanto aos acontecimentos posteriores a coroação do leão, vou lhes contar por serem meus amigos, mas se contarem para mais alguém eu desminto tudo, digo que estão loucos ou que estão se envolvendo com substancias proibidas. Estão avisados.
Como vocês sabem, eu fui ironizado pelo leão quando me propus a ser o rei dos animais. Não pude impedir que ele se tornasse o rei, mas vi na figura da águia a oportunidade de ganhar o meu quinhão nesta história. A oportunidade batia em minha porta, um ser ingênuo e idealista se oferecia a minha sagacidade, era exatamente o que eu precisava para mostrar o meu valor.
Aproximei-me da ave e me fiz de vitima, mostrei a ela toda minha indignação e vontade de mudar aquele cenário, minha atuação foi magnífica, era eu o maior entusiasta no dia do ultimo discurso. É difícil de imaginar uma águia de amizades com um réptil, mas consegui ganhar sua confiança, eu era seu maior militante.
O discurso da águia vinha ganhando força, talvez as coisas voltassem a ser como eram antes, mas que graça teria voltar para minha vida anterior? Eu queria mais. Eu merecia mais da vida, não poderia desperdiçar todo meu talento político em uma vida de mesmice. Se os fins justificam os meios, eu é que não queria um fim medíocre para minha vida.
Com muita insistência convenci a águia que talvez valesse a pena escutar o que o leão tinha a dizer. Foi assim que aconteceu a maior das ironias. Vocês podem imaginara a cena de uma cobra se degustando da carne de uma águia?  É como imaginar uma zebra se alimentando de um felino. Foi a melhor refeição de minha vida.
Feito isto o leão cumpriu sua palavra, não por ser de sua índole, mas por enxergar que eu poderia ser de grande serventia na consolidação de seu poder. Hoje como vocês sabem sou o conselheiro do rei, sou seu maior articulador e criador do projeto alienação. Sou um sucesso, um mestre da política, um exemplo de que realmente os fins justificam os meios.




TEORIA DA REALEZA E SUBMISSÃO PARTE V (A girafa)



Apenas vivo minha vida, resolvi adotar a antiga tática do avestruz, pois os acontecimentos posteriores aquele fatídico dia, fizeram de mim um ser apolítico. Muitos me criticam, dizem que por existir outros como eu é que a vida está como está, acreditam em um mundo diferente, mas estes são poucos, poucos e ingênuos.
Estes olhos já viram muitos animais desperdiçarem suas jovens vidas por um sonho, por um ideal, não creio valer a pena, me é mais confortável adaptar, pois a adaptação está em nosso instinto de sobrevivência, sigo as recomendações e os abusos do rei leão, apesar de ter um pescoço que favorece enxergar além, decidi enxergar somente o que me interessa.
Os idealistas pensam poder mudar o mundo, suas leis e costumes, queria poder acreditar nesta possibilidade, mas não consigo, pois vejo um sistema muito enraizado, eficaz e inteligente ao ponto de conseguir naturalizar o que foi inventado, o que foi criado pela ambição. Não vejo qualquer perspectiva de mudança.
Sou o maior animal deste mundo, mas me sinto pequenino. Sou pequeno demais para mudar algo tão grande, por isso me deixem viver em paz, longe da política.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

UMA CIDADE NO CÉU



Certa vez eu tive um sonho estranho, sonhei que eu havia inventado uma formula que revolucionária o mundo. Havia inventado uma formula capaz de dar ao homem a habilidade de voar, fui o primeiro a experimentar, era maravilhoso. A sensação de total liberdade era algo psicodélico, surreal, sentia-me leve, maravilhado com o que acabara de inventar, então decidi que todo ser humano tinha o direito de se sentir assim, decidi que o invento pertencia a toda a humanidade.
Havia dado em todos os jornais, só se falava no controlador de gravidade, mas também não era por menos, tinha gente voando por todos os lados, estavam todos felizes, alguns se perguntavam como conseguíamos viver com os pés presos na terra, voar era bom demais, como o ser mais inteligente do planeta poderia não usufruir de algo tão maravilhoso?Sentia-me realizado.
O controlador de gravidade podia ser produzido de forma caseira, era muito simples, não havia nenhum perigo,porém um homem calculou erroneamente que por ser mais gordo deveria usar a formula numa quantidade maior,aconteceu que o ingênuo homem foi subindo,subindo ,subindo sem parar, parecia um balão, e o homem sumiu na imensidão azul.
Minha formula foi adaptada para ser usada também em objetos, todo tipo de objeto, usaram um estabilizador para que o objeto permanecesse estático no lugar especificado, feito isso começaram a lotear terrenos no céu, e não é que havia muitos interessados. Funcionava da seguinte forma, nos céus de um bairro nobre havia outro bairro nobre, nos céus de uma periferia havia outra periferia, e era assim, as pessoas de posse queriam garantir que não haveria nenhuma favela sobre seus bairros, então pagavam pequenas fortunas em lotes no céu de suas casas.
A vida na terra era uma bagunça, e lá em cima era uma cópia idêntica, havia casas por todos os lados, carros, congestionamentos e etc., mas o mais assustador era a montanha de lixo depositado no céu, achavam mais prático deixar todo o lixo em um ponto mais isolado do céu, o cenário era assustador, vez ou outra uma tempestade levava a montanha de lixo para outra direção, um dia foi parar uma em cima da casa do prefeito. Foi ai que descobriram que não conseguiam reverter o processo em um objeto que utilizava o tal de estabilizador. Sentia-me desolado, o que havia começado como um sonho, agora tinha ganhado ares de pesadelo, pois parecia está na natureza humana a capacidade de destruir, foi então que acordei, e para meu espanto o noticiário do rádio repetia a seguinte frase:
“Este é um pequeno passo para o homem, mas um enorme salto para a humanidade”. O homem acabara de ir à lua.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

TEORIA DA REALEZA E SUBMISSÃO PARTE lV (o macaco)



Se eu me consagrar rei você terá um cargo em meu reino, foi o que ele disse. Senti-me o tal diante dessa promessa, a ascensão do leão, derrepente parecia a minha própria, então lhe dei o meu apoio.  Aconteceu tudo rápido demais, mas hoje consigo perceber que os felinos já haviam planejado esta jogada de mestre há muito tempo. Eles descobriram que espalhar o medo é uma arma infalível, é preciso criar uma ameaça em comum para que todos aceitem abrir mão de seus direitos por um “bem maior”, e foi justamente o que fizeram. Espalharam a mentira, plantaram a semente do medo no coração de todos os animais, e esperam germinar.
A ameaça de extinções provocada por nossa falta de organização foi a cartada final, naquele momento estávamos vulneráveis a aceitar as idéias do leão, éramos presas fáceis. Logo após o leão se consagrar rei, fui exigir meu cargo, imaginava ser um conselheiro real, mas o cargo que me foi concedido é o de bobo da corte.
No começo os espetáculos eram apenas para a corte real, tinha que me desdobrar, pois se o rei não gostasse do show, de espetáculo principal eu me tornaria prato principal, como a águia que muitos dizem ter se matado.com o passar dos tempos o rei percebeu que o discurso subversivo da ave ainda ressoava entre os animais, então resolveu reagir. A primeira estratégia foi a repressão ,mas logo percebeu que só reprimir não bastava,era preciso também distrair,e é ai que eu entro.os espetáculos que antes eram elitizados agora tinham ganho apelo popular,era preciso prender a atenção de uma grande gama de animais ,para que os discursos subversivos perdessem a força.
Muitos animais acreditam na bondade do rei, dizem que ele cuida da gente, se preocupa, nos quer ver felizes, estes já alcançaram o estágio final do projeto alienação. Se eu queria um cargo importante ,agora tenho,sou um dos pilares de sustentação do reinado do leão, mas, contudo isso ,não consigo dormir.

TEORIA DA REALEZA E SUBMISSÃO PARTE lll (o elefante)





Aqui, no local que se tornará o cenário de minha morte, eu, um elefante velho e cansado, estou em voltas com minhas memórias. Acabo de me distanciar de minha manada, nunca pensei que fosse tão difícil, mas sem forças para seguir em busca de alimento e água, não tive escolha, resistir seria por em risco a vida daqueles que por tanto tempo caminharam ao meu lado, pois se caísse diante deles, a manada não arredaria o pé enquanto me houvesse vida, e quando chegasse minha hora, talvez fosse tarde de mais para eles, pois estávamos longe demais de comida e água.
Agora, na quase completa solidão, as lembranças me vêm à mente como marteladas, lembranças da infância, dos primeiros aprendizados, do primeiro namoro, mas nenhuma lembrança me atormenta mais que as daqueles infelizes dias. Hoje eu sei que não precisávamos de nenhum rei, aprendi que verdade é apenas a versão da história mais discernida, e que uma boa propagando é capaz de promover a mais infame mentira a verdade. Hoje eu sei, mas naquela época não pude enxergar, o sonho por poder às vezes transforma até o mais altruísta dos seres, e aquela ideologia criada favorecia meus interesses.
Sei que não precisávamos de um, mas eu seria um bom rei, porém fui humilhado diante de todos pelo leão, que utilizou de minha estética para me ridicularizar. Beleza é algo tão relativo, como podem utilizá-la como parâmetro de valor?  Tem mais valor quem é mais belo?O leão é verdadeiramente belo, mas seu reinado é monstruoso. Presenciei coisas terríveis, os súditos, em sua maior parte vivem, ou melhor, sobrevivem em condições precárias, não por falta de recursos,pois estes existem,vivem assim porque os recursos existentes estão nas mãos de poucos, a corte e a chamada elite esbanjam sem se importarem com mais ninguém, todo alimento passa pelos fiscais do rei, a maior parte é confiscada, se alguém discorda, lá está a guarda real.
Sinto minhas forças me deixarem, é triste morrer frustrado, é triste morrer em divida. Por isso se eu pudesse deixar um ultimo conselho, este seria:
Nunca se acovardem. Nunca se calem diante da injustiça, não permitam que o mal aconteça por ficarem mudos, pois este foi meu maior erro,já que naquela época tinha força bastante para resistir, mas achei mais conveniente me calar.
Neste momento minha principal característica me soa como maldição,pois teria uma morte mais tranqüila se pudesse esquecer.



terça-feira, 30 de agosto de 2011

carpe diem




Bom, era só uma consulta rotineira, mas aquela tarde, que não se diferenciava de nenhuma outra, que assim como outra qualquer, despertava na gente aquela preguiça costumeira, me mudara a vida. Ao chegar ao consultório, recebi a noticia de que teria pouco tempo de vida, o médico não sabia especificar, mas o certo é que logo logo estaria fazendo minha viagem derradeira.o meu mundo fora a baixo,meus pés flutuavam,me sentia como se estivesse suspenso no universo,pois por mais que a morte povoe nossa existência,raciocinar sobre a própria morte não é nada fácil,e ninguém espera que seja,porém na hora da verdade,é tudo bem maior do que a gente possa antecipar,são tantas as incertezas.
Certo dia, ao acordar senti algo diferente, abri a janela e fiquei observando.acredito que nunca houve na história dia mais bonito,o sol brilhava de uma intensidade fascinante,foi difícil não ficar imaginando quantas vezes eu ainda vivenciaria tal espetáculo ,quando se vislumbra o fim ,tudo é grandioso,tudo é mágico,é quando descobrimos o significado de milagre.
Minha vida sempre foi apressada, tinha a impressão que o dia era muito pequeno, eram tantos afazeres que nunca tive tempo para mim, se não tinha tempo para mim, imaginem se o tinha para meus amigos, para minha família. Meus filhos e esposa sempre se queixavam de minha rotina, mas eu dizia que não havia outra forma, pois o que estava em jogo era o futuro de nossa família. É engraçado como o momento menos importante para nós é presente, vivemos presos a lembranças ou em busca de conquistas futuras, não pensamos duas vezes na hora de sacrificar o presente, mas não deveria ser o contrario?O presente é o único momento cronológico que realmente nos pertence, não deveria ser o mais importante?
Disseram-me que o médico precisava me ver, fiquei assustado, mas eu já havia passado por esta fase, então me tranqüilizei. Ao chegar ao consultório, percebi que havia algo diferente, o homem de jaleco começou me dizendo que precisava se desculpar, pois havia cometido um grave erro, disse que minha saúde estava normal,e que tudo não se passava de um grande equivoco,disse também que entenderia se viesse a processá-lo, mas naquele momento me aproximei e lhe dei um fraterno abraço,seguido de um muito obrigado. Sem entender nada, ele me perguntou como poderia eu ser grato ao médico que cometeu tal erro, então lhe expliquei, que ele me havia dado uma nova vida, agora eu compreendo o valor da vida, agora sim sou um homem pronto para felicidade


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

TEORIA DA REALEZA E SUBMISSÃO PARTE II (o avestruz)


-A águia morreu, alguém dizia,dizem que foi suicídio,a voz insistia. O diário real publicou a noticia que a saúde mental da ave já não estava boa,vinha delirando,espalhando estórias mentirosas, caluniando e contagiando alguns súditos do rei leão. Esta é a versão que posteriormente seria contada nos livros de história. Às vezes Fico pensando sobre o significado da morte, creio que exterminar fisicamente alguém  não é necessariamente matá-lo, pois a águia não estava morta, estava viva, um pouco em mim, um pouco em outro animal, em cada um que sonhava em ser livre novamente, lá estava um pouco da águia.
Eu, este velho avestruz, já não mais me escondo, enfiar a cabeça num buraco e fechar os olhos para a realidade são atitudes que já não me cabem,lembro de um tempo onde os animais eram livres, nascíamos assim, agora parece tão distante, muitos já se esqueceram, mas eu não. lembro como se fosse hoje. Primeiro nos fizeram acreditar que não podíamos seguir como estávamos, e se não houvesse alguém para nos gerir, nosso fim seria catastrófico, então acreditamos, e fizemos do leão nosso rei.
Agora chamam isso de estado, denominam estado, como ferramenta pública que visa o bem estar social, que existe exclusivamente para nos garantir condições de dignidade. Denominam assim, mas na prática é bem diferente. O estado criado pelo leão é um aparato muito bem resguardado para manter privilégios, excluir todos os outros animais para o bem estar dos felinos, que agora querem ser chamados de elite. O mais intrigante é que outros animais foram desiguinados para a tarefa de defender o rei, sua corte e a chamada elite. São animais de várias espécies, que mesmo vitimados pelo sistema, o defendem. Tenho um primo que sonha em ser um guarda real, imaginem só um avestruz como guarda real!
Lembro de um trecho do celebre discurso da águia, pouco antes de ser assassinada, dizia mais ou menos assim:
-Caros amigos, não se deixem enganar, não aceitem com tanta passividade a opressão, pois está nas mãos de cada um vocês uma chance única de dizer não. Não a tirania, não a opressão, não a privilégios, não a violação do que cada um tem de mais valioso, a liberdade.
-Neste momento eu ainda me encontrava com a cabeça num buraco, mas como fechar os olhos para a realidade que nos bate a porta?Como sufocar um sentimento?A velha tática de me esconder já não me bastava, precisei me reinventar,agora tem mais da águia em mim do que podia imaginar.fui convido para participar do banquete real.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

um conto sobre a liberdade


 Um jovem pássaro havia passado toda sua vida em uma gaiola, esta também foi a sina de seus pais e seus avós, o pobre só conhecia a vida que rodeava sua gaiola. O jovem pássaro era feliz, tudo que precisava encontrava ali, água, comida, a vida era boa, mas algo aconteceria, e ia transformar sua vida.

Certo dia o pássaro recebeu uma visita inesperada, era uma borboleta, ele já havia visto outras criaturas como aquela, mas nenhuma tinha se aproximado tanto, se sentiu completamente fascinado por aquela criatura que assim como ele também voava,era como se estivesse em transe, a criatura era de uma beleza impar, voava, e não havia gaiola, de onde ela vinha?Ele se perguntava, sua curiosidade era tanta que logo a borboleta percebeu, e então se aproximou, o pássaro logo perguntou: De onde você vem?

A borboleta então lhe contou coisas sobre um mundo belo e imenso, falou sobre liberdade e outras coisas, mas o jovem pássaro não conhecia a palavra liberdade, que palavra difícil de explicar! Ficaram horas conversando, no final da conversa liberdade não era mais só uma palavra, mas uma obsessão, no dia seguinte a criatura magnífica que o visitara não voltou, e toda aquela conversa parecia ter sido apenas um sonho.

Certo dia, a porta da gaiola estava aberta, devem a ter esquecido assim, o pássaro não pensou duas vezes, foi conhecer a tal da liberdade. A tal liberdade era fascinante, mas também assustadora, e mesmo maravilhado com as belezas do mundo que existia do lado de fora da gaiola, o pássaro voltou. não se sentia preparado para tamanha transformação, ser livre é ser responsável por sua existência, isso o atormentava, por isso lá estava o pobre pássaro de volta a sua gaiola, mas nunca mais seria só uma gaiola, não após conhecer a liberdade, agora tinha outra conotação, o pobre fez a terrível descoberta de que só se reconhece uma prisão ,quando já se esteve fora dela,por isso nunca mais se sentiria em casa.

Muitas primaveras se passaram, o pássaro já não era mais jovem, tinha se tornado uma criatura atormentada por suas escolhas, o sonho de ser livre o atormentou de tal maneira, que já não mais cantava, tudo que queria era poder voltar atrás, se lhe fosse concedido essa oportunidade, talvez nunca tivesse retornado a sua gaiola, ou talvez nunca tivesse saído.

NO CAMINHO COM MAIAKOVSKI


Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm a ninguém é dado
repousar a cabeça alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã, diante do juiz,
talvez meus lábios calem a verdade
como um foco de germes capaz de me destruir.
Olho ao redor e o que vejo
e acabo por repetir são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó à porta do templo
e me pedem que aguarde até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei, porque não estou amedrontado,
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita lá estão
e acabam por nos roubar até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição de falso democrata
e rotulo meus gestos com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso, esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim, com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita – MENTIRA!
                                            Eduardo Alves da Costa

domingo, 31 de julho de 2011



De forma ácida e com uma linguagem quase científica, o curta mostra como a economia gera relações desiguais entre os seres humanos. O próprio roteirista/diretor já afirmou em entrevista que o texto do filme é inspirado em suas leituras de Kurt Vonnegut ("Almoço de Campeões"/ "Breakfast of Champions") e nos filmes de Alain Resnais ("Meu Tio da América"/ "Mon Oncle d'Amérique"), entre outros.[1]
O filme já foi acusado de "materialista" por ter, em uma de suas cartelas iniciais, a inscrição "Deus não existe". No entanto, o crítico Jean-Claude Bernardet (em "O Cinema no século", org. Ismail Xavier, Imago Editora, 1996) definiu Ilha das Flores como "um filme religioso" e a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) concedeu ao filme o Prêmio Margarida de Prata, como o "melhor filme brasileiro do ano" em 1990. Em 1995, Ilha das Flores foi eleito pela crítica européia como um dos 100 mais importantes curtas-metragens do século.
O curta está listado no livro "1001 Filmes para Ver Antes de Morrer", organizado por Steven Jay Schneider.
(A descrição do curta foi retirada do Wikipédia)

quinta-feira, 28 de julho de 2011

pirâmide do capitalismo

velha pirâmide


Em 1911 tinhamos a clássica "Pirâmide" do sistema capitalista. No topo da pirâmide aparece a classe dominate: grande burguesia, capitalistas, proprietários e monarcas. Logo abaixo o sustentáculo ideológico e político da igreja e do Estado ( judiciário, legislativo). Como instrumento de coerção o exército; abaixo o que Marx identificou como pequena burguesia e na base da pirâmide o proletariado. Assim era constituída a pirâmide do sistema capitalista,porém a medida em que o tempo foi passando esta pirâmide sofreu alterações,hoje se encontra da seguinte forma: 

nova pirâmide
No topo o "rentista", "investidor da bolsa", acionista de grandes corporações. Logo abaixo a "guarda de honra", seu exército privado. Na esfera seguinte a "tropa de choque" dos exércitos nacionais que garantem a "normalidade" do sistema contra "disturbios"; na parte intermediária estão a classe média, a antiga "pequena burguesia", e o que resta do proletariado do saudoso "welfare state" todos alienados e anestesiados pela mídia dominante. Em seguida temos o exército do império, combatendo os "terroristas" que ameaçam o "modo de vida ocidental", e na base da pirâmide os povos "bárbaros" não ocidentais, aqueles que ainda vivem do seu próprio trabalho.

sábado, 2 de julho de 2011

quando a escola é de vidro (Ruth Rocha)

o    Naquele tempo eu até que achava natural que as coisas fossem daquele jeito. Eu nem desconfiava que existisse lugares diferentes muito diferentes...
o    Eu ia para escola todos os dias de manhã e quando chegava, logo, logo, eu tinha que me meter no vidro. É no vidro!
o    Cada menino ou menina tinha um vidro e o vidro não dependia do tamanho de cada um, não! O vidro dependia da classe em que a gente estudava.
         
o    Se você estava no primeiro ano ganhava um vidro de um tamanho. Se fosse do segundo ano seu vidro era um pouquinho maior. E assim, os vidros iam crescendo à medida que você ia passando de ano.
o    Se não passasse de ano era um horror. Você tinha que usar o mesmo vidro do ano passado. Coubesse ou não coubesse.
o    Aliás, nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros. E pra falar a verdade, ninguém cabia direito.
         
o    Uns eram muito gordos, outros eram muito grandes, uns eram pequenos e ficavam afundados no vidro, nem assim era confortável. Os muitos altos de repente se esticavam e as tampas dos vidros saltavam longe, às vezes até batiam no professor.
o    Ele ficava louco da vida e atarraxava a tampa com força, que era para não sair mais. A gente não escutava direito o que o professor diziam, os professores não entendiam o que a gente falava...
       
o    As meninas ganhavam uns vidros menores que os meninos. Ninguém queria saber se elas estavam crescendo depressa, se não cabiam nos vidros, se respiravam direito...
o    A gente só podia respirar direito na hora do recreio ou na aula de Educação Física. Mas aí a gente já estava desesperado, de tanto ficar preso e começava a correr, a gritar, a bater uns nos outros.
        
o    As meninas, coitadas, nem tiravam os vidros no recreio. E nas aulas de Educação Física elas ficavam atrapalhadas, não estavam acostumadas a ficarem livres, não tinham jeito nenhum para Educação Física.
o    Dizem, nem sei se é verdade, que muitas meninas usam vidros até em casa. E alguns meninos também. Estes eram os mais tristes de todos. Nunca sabiam inventar brincadeiras , não davam risada à toa, uma tristeza!
         
o    Se a gente reclamava? Alguns reclamavam.E então os grandes diziam que sempre tinha sido assim; ia ser assim o resto da vida.
o    Uma professora, que eu tinha, dizia que ela sempre tinha usado vidro, até pra dormir, por isso que ela tinha boa postura.
o    Uma vez um colega meu disse para a professora que existem lugares onde as escolas não usam vidro nenhum, e as crianças podem crescer a vontade.
o    Então a professora respondeu que era mentira, que isso era conversa de comunista. Ou até coisa pior...
         
o    Tinha menino que tinha até de sai da escola porque não havia jeito de se acomodar nos vidros. E tinha uns que mesmo quando saíam dos vidros ficavam do mesmo jeitinho, meio encolhidinhos, como se estivessem tão acostumados que até estranhavam sair dos vidros.
o    Mas uma vez, veio para minha escola um menino, que parece que era favelado, carente, essas coisas que as pessoas dizem pra não dizer que é pobre.
        
o    Aí não tinha vidro pra botar esse menino. Então os professores acharam que não fazia mal não, já que ele não pagava a escola mesmo...
o    Entao o Firuli, ele se chamava Firuli, começou a assistir as aulas sem entrar dentro do vidro. O engraçado [é que o Firuli desenhava melhor que qualquer um, o Firuli respondia perguntas mais depressa que os outros, o Firuli era muito mais engraçado... E os professores não gostavam nada disso... Afinal, o Firuli poderia ser um mau exemplo pra nós... E nós morríamos de inveja dele, que ficava no bem bom, de perna esticada, quando queria ele se esticava, e até mesmo que gozava da cara da gente que vivia preso.
         
o    Então um dia um menino da minha classe falou que também não ia entrar no vidro.
o    Dona Demência ficou furiosa, deu um coque nele e ele acabou tendo que se meter no vidro, como qualquer um. Mas no dia seguinte duas meninas resolveram que não iam entrar no vidro também:
o    - Se o Firuli pode por que é que nós não podemos?
o    Mas dona Demência não era sopa. Deu um coque em cada uma e lá se foram elas, cada uma pro seu vidro...
o    Já no outro dia a coisa tinha engrossado. Já tinha oito meninos que não queriam saber de entrar nos vidros.
      
o    Dona Demência perdeu a paciência e mandou chamar seu Hermenegildo que era o diretor lá da escola.
o    Seu Hermenegildo chegou muito desconfiado:
o    - Aposto que essa rebelião foi fomentada pelo Firuli. É um perigo esse tipo de gente aqui na escola. Um perigo!
o    A gente não sabia o que é que queria dizer fomentada, mas entendeu muito bem que ele estava falando mal do Firuli.
o    E seu Hermenegildo não conversou mais.
o    Começou a pegar os meninos um por um e enfiar à força dentro dos vidros.
      
o    Mas nós estávamos loucos para sair também, e para cada um que ele conseguia enfiar dentro do vidro, já tinha dois fora.
o    E todo mundo começou a correr do seu Hermenegildo, que era para ele não pegar a gente, e na correria começamos a derrubar os vidros.
o    E quebramos um vidro, depois quebramos outro e outro mais.
o    Dona Demência já estava na janela gritando:
o    - SOCORRO! VÂNDALOS! BÁRBAROS! - para ela bárbaro era xingação.
o    Chamem o bombeiro, o exercito da salvação, a polícia feminina...
      
o    Os professores das outras classes mandaram cada um, um aluno para ver o que estava acontecendo.
o    E quando os alunos voltaram e contaram a farra que estava acontecendo na 6ª série todo mundo ficou assanhado e começou a sair dos vidros.
o    Na pressa de sair começaram a esbarrar uns nos outros e os vidros começaram a cair e a quebrar.
o    Foi um custo botar ordem na escola e o diretor achou melhor mandar todo mundo pra casa, que era para pensar num castigo bem grande, para o dia seguinte.
o    Então eles descobriram que a maior parte dos vidros estava quebrada e que ia ficar muito caro comprar aquela vidraria tudo de novo.
      
o    Então diante disso, seu Hermenegildo pensou um bocadinho, e começou a contar para todo mundo que em outros lugares tinha umas escolas que não usavam vidro nem nada, que dava bem certo e as crianças gostavam muito mais.
o    E que de agora em diante ia ser assim: nada de vidro, cada um podia se esticar um bocadinho, não precisava ficar duro nem nada, e que a escola agora ia se chamar Escola Experimental.
o    Dona Demência, que apesar do nome não era louca nem nada, ainda disse timidamente:
o    - Mas seu Hermenegildo, Escola Experimental não é bem isso...
     
o    Seu Hermenegildo não se perturbou:
o    - Não tem importância. A gente começa experimentando isso. Depois a gente experimenta outras coisas...
o    E foi assim que na minha terra começaram a aparecer as Escolas Experimentais.
o    Depois aconteceram muitas coisas, que um dia eu ainda vou contar...